É oficial: satélites da Starlink atrapalham astronomia e outros serviços

Estudo publicado na revista científica Astronomy & Astrophysics mostra que constelação da Starlink “lidera” interferência em telescópios e outros satélites

Felipe Freitas
• Atualizado há 1 ano e 4 meses

Os satélites da Starlink, serviço de internet via satélite da SpaceX, receberam uma “prova científica” do seu impacto negativo na astronomia e em outros serviços que dependem de equipamentos na órbita terrestre. O estudo sobre o impacto foi publicado na Astronomy & Astrophysics, mas não é só a Starlink que o problema. Para ser justo, a quantidade de lixo espacial também afeta a internet da SpaceX.

Os impactos da constelação da Starlink não são uma novidade. No fim do ano passado, publicamos aqui no Tecnoblog sobre a autorização da FCC para o lançamento de mais 7.500 satélites da empresa. A decisão da FTC aumento a preocupação e gerou mais uma reclamação de astrônomos sobre o excesso de satélites na órbita baixa da Terra (LEO, sigla em inglês), que compreende a altitude de 500 km a 1.000 km.

A diferença é que antes não havia um estudo publicado sobre o caso, mas relatos e imagens de observações de telescópios terrestres que receberam “photobombs” dos satélites da Starlink.

A situação tende a piorar não só para os astrônomos, mas também para serviços de GPS e telecomunicações, por exemplo — e a culpa não é só das estrelas da Starlink, mas de outros serviços de internet via satélite também.

Satélites da Starlink estão emitindo frequências das quais não foram autorizados (Imagem: Divulgação/SpaceX)
Satélites da Starlink estão emitindo frequências das quais não foram autorizados (Imagem: Divulgação/SpaceX)

No artigo publicado na Astronomy & Astrophysics, 47 de 68 satélites da Starlink observados pelos pesquisadores estavam emitindo sinais em frequências das quais ele não foram autorizados.

Nesse caso, as “medidas de segurança” da SpaceX para evitar que os satélites apareçam em imagens é insignificante, já que o problema das frequências não autorizadas afetam a radioastronomia — ramo que estuda sinais de rádios emitidos por corpos celestes.

Como explicou Cees Bassa, astrônomo coautor do estudo, entre as frequências emitidas pelos satélites está a faixa entre 150,05 e 153 MHz, que é reservada pela União Internacional de Telecomunicação (órgão da ONU) para o uso na radioastronomia.

Por mais que outras empresas — OneWeb e HughesNet, por exemplo — também atuem neste ramo que afeta as observações astronômicas, o “líder do ranking” é a Starlink por causa dos seus milhares de satélites. “Quanto maior a constelação, as emissões vão “somando”, explicou o pesquisador de radioastronomia Benjamim Winkel.

Interferência da Starlink em captura de telescópio terrestre (Imagem: Divulgação/Zwicky Transient Facility)
Interferência da Starlink em captura de telescópio terrestre (Imagem: Divulgação/Zwicky Transient Facility)

O excesso de satélites e lixo espacial na órbita baixa da Terra também impacta as operações da Starlink — a líder em afetar as observações astronômicas. A SpaceX mostrou para a FCC que realizou mais de 25.000 manobras com seus satélites para evitar colisões entre dezembro de 2022 e maio de 2023.

O número é o dobro do mesmo período (dezembro de 2021 à maio de 2022). A SpaceX realiza uma manobra se o risco de colisão é 1 em 100.000 — enquanto a NASA adota a mudança se o risco é 1 em 10.000.

Infelizmente, a previsão é que fique ruim para todo mundo: pesquisadores em terra e empresas que operam satélites. A previsão é que o número de objetos na LEO fique entre 100.000 e 500.000. É, estamos ficando sem espaço.

Com informações: ABC, Independent, Science e TechCrunch

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Felipe Freitas

Felipe Freitas

Repórter

Felipe Freitas é jornalista graduado pela UFSC, interessado em tecnologia e suas aplicações para um mundo melhor. Na cobertura tech desde 2021 e micreiro desde 1998, quando seu pai trouxe um PC para casa pela primeira vez. Passou pelo Adrenaline/Mundo Conectado. Participou da confecção de reviews de smartphones e outros aparelhos.